20.2.10

this excellent desolation

eu tive um pouco de pressa quando li watchmen pela primeira vez. sendo a má pessoa que sou, não é surpresa que meu interesse não tenha surgido antes da febre do filme e ainda mais das vésperas do filme, de modo que não foram muitas as horas que me restaram antes de ir ao cinema pra que aquela caralhada se decantasse vagarosa como a neve de um globo de neve caindo como peças de um quebra-cabeça enquanto eu as apanhasse e as encaixasse em meus problemas, murmurando no final: - caralho. e realmente não deu tempo.


foi apenas com a trivial mágica da leitura seguinte (o filme não conta) que eu tive a chance de andar por aí afinal assimilando em reprise meus próprios suspiros abraçado com os fantasmas particulares dos personagens. em especial, com o fantasma do dr. manhattan. quando, desapontado com o projeto humano de existência, ele parte pro exílio em marte e decide que a 'excelente desolação' daquelas paisagens mortas vale mais a contemplação do que os dramas da vida terrena - nessa hora eu fui o coração partido de jon.


enquanto a namorada visitante tenta, irritada, demovê-lo de seu bizarro cinismo, ele interrompe a conversa para lhe apontar no horizonte vermelho o olympus mons - a montanha mais alta do sistema solar, aos pés da qual nossas fantasias escapistas certamente se encontraram e fizeram amor gostoso. foi ali que eu notei quantas vezes já quis interromper o choramingo realista de laurie para, com o mesmo entusiasmo inefável do dr.manhattan, apontar o olympus mons.



claro: o dr. manhattan é a maioria de nós, buscando fuga no conforto silencioso de outros mundos, encantados pela beleza entorpecente daquilo que nos arrebata de qualquer pequena ou grande aventura moral. e este blog quase se chamou olympus mons em homenagem ao nosso irremediável deslumbre com o extraterrestre.


mas este não será um blog sobre o relevo dos planetas, mas sobre esse estado de excelente desolação. assim, eu bem poderia falar de qualquer punhetice inconsequente, de qualquer coisa prazerosa e grande e linda e pouco misericordiosa com as urgentes questões práticas mas no fim das quais há sempre o encontro fatal com a tragédia humana. tipo futebol. mas ok, me agradeçam porque vai ser só sobre música, sobre coisas e discos de que eu gosto e pans. e de mim mesmo afinal. o que, de fato, não é lá nada assim tão extraterrestre.